INSCRITOS NO CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER FAZEM DECLAMAÇÕES POÉTICAS ÀS MÃES

Luciane Madrid Cesar

Sebastião Aimone Braga homenageia sua mãe, D. Filó com o poema "Tudo sobre minha mãe"!

Sebastião Aimone Braga

QUASE TUDO SOBRE MINHA MÃE

Fim de semana meu irmão conta sobre episódio com Dona Filó, ouvindo pouco e não enxergando mais. Casa de mãe, casa de todos. Muita gente para comer, no fim muitos dormindo por ali mesmo. Filho e nora, filha, um ronco só pela noite. Depois da cerveja, tendência de aumentar alguns decibéis. Ela acorda no outro dia e pergunta pra filha se havia chovido durante a noite. Soninha olha com curiosidade e responde que não. Uai, minha filha, trovejou a noite toda!
Um dia o genro apareceu, queixoso, desabafou com Dona Maria as teimosias da Ana, seu mau humor, enumerou mágoas, anos de casamento. Contava com a solidariedade da sogra. Dona Filó ouve tudo silenciosamente, vira para o genro e sentencia: sabe por que minha filha é…é assim, Rocha? Porque ela é igualzinha a mim.
Luciano era noivo da filha mais nova, namoravam desde os 15 anos e viviam às turras. Muita confusão, brigas, cada um ia pro seu lado, dores de amor. Aí o Lu resolve aparecer na casa, saudades da sogra, gostava muito dela… Falava olhando pros lados, procurando Silvânia. Reza pra mim, Dona Filó! Ela olha pra ele e comenta: meu filho, pra quem tá no inferno, pai-nosso é lenha na fogueira!
No hospital, Dona Filó fazia transfusão de sangue, medula já não produzia o suficiente. Reclamava de tudo, sangue podia ser de vagabundo, de qualquer um… Nem podia recorrer aos homens da família, só cachaceiro. A irmã mais velha protesta, marido dela não bebia. Nem tem sangue, completa a mãe, diante da magreza folclórica do genro.
Papai, já com seus oitenta anos, não perdia o ar de sedutor, gentil com as senhoras da igreja. Era Ministro da Eucaristia, assim podia levar comunhão pra esposa. Dessa vez, sua atenção voltava-se para a viúva do colega, também ministro. Pela manhã, Dona Filó percebeu movimentos diferentes, barulho de plástico. Ele era muito disciplinado, ginástica antes do banho, sempre de água fria. Ela não perguntou nada. Mais tarde, na igreja do bairro, a comadre veio comentar com ela: Fala para o Braga que as mexericas que ele deixou pra mim estavam docinhas, docinhas. Dona Filó não perdeu a pose: fui eu que escolhi pra você, Doralice!
O vendedor chato e insistente à porta: quero falar com a madame, a dona da casa. Meu Senhor, ela logo emendava, madame é o meu genro que está ali dormindo a essa hora do dia!…
Como não enxergava mais, Dona Filó sentia falta das leituras. Eu ia disponível para Barbacena e lia para ela contos de Guimarães Rosa, entre outros. Trocava as palavras e expressões mais difíceis, fazia suspense e ela acompanhava curiosa. Os filhos viravam personagens rosianos. Será que eu assisti missa de domingo ao lado da mãe e da filha do Soroco? Coitado, pensava que era para o bem delas, olha onde foram parar, no manicômio de Barbacena! Silvânia, o Zé Boné já chegou? Tarantão, para de azucrinar sua mãe, vai lá pra cozinha! Damastor, vou te ensinar como se faz o polvilho na roça, que nem naquela história. Mariângela, o Doricão já almoçou? Zé Satisfeito, cadê você?!…
Movimentava caminhos. De ouvinte, passou a contar suas histórias, memória privilegiada. De lembranças e esquecimentos.
Minha mãe queria ser enterrada em Ibertioga, sua terra. E com banda de música. Insistia com os filhos e eles ponderavam sobre os 51 anos de casamento com o pai, enterrado em Barbacena. Ela dizia que o coração falava mais alto, ameaçava que fugiria.
Essa insistência era apenas uma das lutas da senhora de 87 anos. Lutava também com muitos outros problemas de saúde. Tá boa, mamãe? Boa de jogar fora, meu filho. A vida a levou para fora, para outro tempo, talvez da delicadeza. Deste lado, fica a lembrança do sabor da sua prosa, eivada de memórias, inteligência, humor peculiar. Cuidado materno com o bem-estar de toda a família. Já tomou café, meu filho, já almoçou? Jantou, minha filha? Tá com fome? Vinha a nutrição do afeto, calor generoso posto à mesa.
Guimarães Rosa dizia que Deus nos dá pessoas e coisas para aprendermos a alegria. Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinha. Pensando sobre esse dito, percebe-se a última grande lição de Dona Filó. Mesmo com tantos filhos, ela nos ensina que há um caminho individual para a alegria. A alegria única feita de escolhas, de desejos.
Com saudade, vamos em nossos caminhos, exercendo nossas escolhas, buscando a capacidade da alegria, agora sozinhos.
Ainda vamos aprender na visita a uma capelinha da matriz de Ibertioga, onde se esconde obra rara: Nossa Senhora Grávida. Imagem restaurada depois de longo ostracismo. Penso em Dona Filó, em seus tantos períodos de gravidez, a trazer ao mundo vinte filhos. Vinte filhos! Imbuídos dessa responsabilidade, seguimos a buscar agora a alegria sozinha.
Dona Filó é um retrato risonho na parede. Dói menos!…

OFICINA DE ESCRITA CRIATIVA PRESTA SUA HOMENAGEM ÀS MÃES

Léa Sanches

 

Aprendi através das palavras, mas, muito além assimilei meu aprendizado através da coerência das palavras e atitudes de minha Mãe.
Com ela aprendi que ser livre é poder fazer escolhas.
É estar bem com as escolhas que se faz.
Ser livre é saber que escolhas e atitudes estão ligadas ao senso moral.
É saber que moralidade é construída desde a ancestralidade.
Ser livre é reconhecer que ancestralidade não é o mesmo que consanguinidade.
É saber que, embora com todas as heranças e inventários, só você é quem pode se tornar UM.
E ao se tornar, poderá se afirmar LIVRE.
E, graças a você, Mãe:
EU SOU…

Rita de Cássia Ponciano Rodrigues Bloédt

O que faz uma pessoa ser mãe?

 

“O que faz uma pessoa ser mãe? Obviamente, a resposta pode ser: dar à luz. Mas não é tão simples! Ser mãe é cuidar, acalentar, ensinar, formar, prover, tentar, resistir, lutar, acreditar, sorrir, chorar, tomar para si as dores do filho. Ser mãe é ter fé. É praticar a resiliência. É se entregar de corpo e alma para o exercício da forma mais pura e perfeita do amor!”

Mãe

Mãe é feita de espera.
À espera de que o filho nasça;
À espera de que a cólica passe;
À espera de que a febre ceda;
À espera de que o humor mude;
À espera de que o amor chegue;
À espera de que os planos se realizem;
À espera de que o caminho seja lindo.
Mãe é feita de ESPERANÇA!

Maria de Fátima Teixeira Caldas

Eu te procurei na noite e te encontrei na manhã,
porque és luz!
Tentei te achar na gota de chuva e te encontrei no raio de sol,
porque és calor!
Busquei teu rosto em cada face e te encontrei em um sorriso de criança,
porque és paz!

Cada gota de orvalho
(ou será cada flor?)
reflete a pureza de teus olhos maternais.

E, mesmo que não te possa ver,
sei que estás comigo.
Se te desvaneces é porque viraste anjo!

Anita Maria Zanon

MÃE, SEU DIA SEMPRE SERÁ DE FESTA

As lembranças são o filme do tempo nos dias de hoje.
Doces lembranças, que me fazem sorrir.

Era dia de festa na escola, homenagem às mães. Eu, com meus onze anos, cursando Admissão de um ano (um curso que fazia a transição entre o primário e o primeiro grau), toda envolvida naquela festa importante: o dia das mães!

Na preparação:  poesia, teatro, canto, todo tipo de arte para fazer daquele momento uma grande homenagem às mães, convidadas de honra. D. Lenira, minha professora querida, empenhava-se em incentivar, coordenar e dirigir todos os preparativos para a data tão esperada.

Chegou o grande dia! Eu com vestido verde água, lacinho de fita no cabelo, sapatinho branco de verniz estilo boneca, meia soquete, toda linda para o grande dia! Começou a festa e nós, um a um, fomos apresentando o que havia sido preparado com tanto amor!

D. Lenira me apresentou e eu fui para o palco, coração a mil! E então, olhando todas aquelas pessoas, todas as mães, na singeleza dos meus onze anos, eu fiquei muda! As palavras fugiram de minha boca, sumiram de minha memória os versos do poema tão estudado. Minha professora, salvando a situação, foi recitando comigo, iniciando os versos e reavivando, em minha memória, a poesia. Quanta vergonha!  Mesmo assim, as mães, gentilmente, aplaudiram, reconhecendo a preciosidade daquele instante tão especial para mim!

Os anos se passaram, e aquele momento ficou gravado em meu ser. Aquela amnésia do dia da apresentação tornou-se uma lembrança efetiva em todos os dias das mães que se seguiram.

O poema, hoje, declamo inteirinho, como homenagem que faço às mães:

Minha mãe (Soneto de Martins Fontes)

“Beijo-te a mão que sobre mim se espalma
Para me abençoar e proteger,
Teu puro amor o coração me acalma,
Provo a doçura do teu bem querer.

Porque a mão te beijei, a minha palma

Olho, analiso, linha a linha a ver
Se em mim descubro um traço de tua alma,

Se existe em mim a graça do teu ser.

E o M, gravado sobre a mão aberta,

Pela sua clareza, me desperta
Um grato enlevo, que jamais senti:

Quer dizer – Mãe! esse M tão perfeito,
T com certeza, em minha mão foi feito
Para, quando eu for bom, pensar em ti.”

Myriam Valéria de Cássia Oliveira

Manhiêê!!!

É engraçado, mesmo com os filhos crescidos, criados e depois de já terem formado suas próprias famílias, ao ouvir esse chamado na rua, no shopping, ou seja lá onde a gente estiver, se a gente é mãe, a gente olha.

A partir do momento em que damos à luz, ser mãe se torna nossa principal razão de ser. Pelo menos comigo isso acontece.

– “Manhiêê!!!”

Esse grito é mais eficaz do que “Socorro!”, porque, nesses dias frios, de gente gelada, se você pedir ajuda, as pessoas passam por você como se nada tivessem a ver com isso, não querem e têm receio de se envolver. 

Mas “Manhiêê” balança a rede. Aquela rede que o Arquiteto do Universo teceu com o fio invisível de um forte instinto de proteção, que envolve todas as mães.
       – “Manhiêê!!!” é a flecha que parte veloz e atinge, em cheio, o coração das mães. E todo esse exército mostra suas garras, suas armas e vão proteger suas crias, com uma bravura que sequer imaginavam ter.

Ao que parece, nesses dias frios, de gente gelada, os corações de muitas mães (graças a Deus!) permanecem sendo ninhos!

PROJETO CANTORIA FAZ SUA HOMENAGEM ÀS MÃES HOJE À NOITE

TRANSMISSÃO AO VIVO PELO YOUTUBE HOJE  05/05, às 19:30h

Foi emocionante assistir a mais uma apresentação do Projeto Cantoria nesta quinta-feira, 05/05, pelo canal do Youtube da AEAMG. Cada cantante buscou suas memórias afetivas e escolheram músicas que suas mães cantavam e assim fizeram uma linda homenagem à sua ancestralidade. A idealizadora do projeto, a musicista Letícia Reis,  surpreendeu a todos convidando as mães das cantantes em dueto com as filhas. É o caso da D. Idalina, de 99 anos, que cantou lindamente com sua filha Maria do Carmo, de Rio Pomba/MG.  A associada Fátima Araújo trouxe músicas folclóricas e dedicou a suas amigas que são mães e avós. Vanessa, que também é compositora,  cantou com sua mãe D. Lourdes, a música Carinhoso, de Pixinguinha. Segundo Letícia, os encontros trazem alegria, cura e transformação! Parabéns às cantantes e suas mamães!