Release 28º Encontro do Clube de Leitura Ler para Tecer – O céu para os bastardos

Prezados(as) Associados(as)

No dia 30 de novembro de 2023, foi realizado, por videoconferência, o vigésimo-oitavo encontro do CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER AEA-MG.

O céu para os bastardos, romance da escritora brasileira, Lilia Guerra, foi o livro lido pelos participantes do Clube de Leitura para ser discutido nesse encontro.

Sobre  “O céu para os bastardos” :

Com uma prosa fluida, Lilia Guerra consegue aproximar o leitor da sua protagonista, Sá Narinha, mulher que atua como trabalhadora doméstica e que tem um caderno de memórias e um olhar muito aguçado ao seu entorno. É por seu ponto de vista e comentários que conhecemos Fim-do-Mundo, periferia onde habitam os personagens do romance. 

O fio condutor vai se revelando aos poucos. Em um primeiro momento, sabemos apenas que algo grave ocorreu na vida de Sá Narinha e que ela se sente culpada e também oprimida no lugar em que mora, mesmo conhecendo os vizinhos há tanto tempo.

Com O Céu para os Bastardos, Lilia Guerra contribui para colocar mais uma série de grandes personagens na história da literatura brasileira. 

A autora: Lilia Guerra

Lilia Guerra é paulistana, nascida em abril de 1976. É autora da coleção de contos Perifobia, finalista do Prêmio Rio de Literatura 2019, e do romance Rua do Larguinho. Seu primeiro livro, Amor Avenida, originalmente publicado em 2014, foi relançado pela editora Patuá em 2022 e, neste mesmo ano, a Patuá publicou também os primeiros três volumes da coleção Novelas que escrevi para o rádio e a compilação Crônicas para colorir a cidade. Atua na área da saúde como servidora do SUS e participa ativamente de projetos que fomentam o hábito da leitura em regiões periféricas de São Paulo, assim como o estímulo à escrita. 

Obras: 

O céu para os bastardos, (romance) Perifobia (contos) Rua do Larguinho (romance) Amor Avenida (romance)

Trechos do romance:

(copiados da edição “Lilia Guerra. O céu para os bastardos. (romance). 1ª ed. São Paulo: Todavia, 2023”)

“−Abranda esse coração, minha irmã. Ele vai morrer um dia como qualquer um de nós. Mas

eu não acredito que Deus possa condenar assim um inocente. Se o Júlio é pagão, não é por culpa dele. O que se pode fazer se não leva o nome do pai no documento? Deve existir um espaço no céu destinado aos pagãos. Aos bastardos. É muita gente. Mira. Muita gente.”p.125

“− Acho que o seu bisavô, branco e muito, muito pobre, nunca foi torturado, Betinho.

Amarrado a um tronco. Surrado. Marcado com ferro quente. Nunca tece um dente arrancado à força nem recebeu sal e vinagre nas feridas abertas pelo chicote. O seu bisavô branco e pobre não foi separado da família. E, pelo que consta, nunca trabalhou sem receber pagamento nem dormiu numa senzala. Um homem branco podia sim ser mal remunerado. Mas nunca escravizado. Podia ficar desempregado, sem ter uma colherada de farinha ou um gole d’água pra oferecer aos seus. Mas era livre. A seca e a miséria podiam alcançar um homem branco e pobre como seu avô, que lamentaria a sua falta de sorte. Sem algemas nos pulsos ou grilhões no pescoço. Se a doença corroesse a carne de um homem brando, ele seria consumido livremente, A loucura podia tomar conta de um homem branco. Ele seria um homem louco. Mas livre. Ele sempre seria livre. Uma mulher branca podia ser muito, muito pobre. Nem por isso teria os filhos arrancados dos seus baços diretamente para as mãos dos compradores. Por miserável que fosse uma mulher branca, não seria obrigada a oferecer o leite de seu peito ao filho de outra, enquanto seu próprio filho era privado de ser alimentado. E mesmo se fosse tão pobre a ponto de ter os seios secos, não seria impedida de segurar sua cria junto ao corpo, procurando dar consolo pra ela. Uma pessoa branca e muito pobre podia trabalhar sem descanso, economizando moedas até se tornar próspera, E, se construíssem um império, deixaria de ser pobre, tornando-se somente rica. Já homem negro, mesmo que enriquecesse, continuaria sendo um homem negro. Ainda hoje, Betinho, se um negro, no auge do desespero, furta um pão, a notícia se espalha:”aquele homem negro é um ladrão.” No entanto, se é um homem branco que rouba, o comentário se modifica: “Aquele homem cometeu um delito.” Então, sua mãe branca, neta de seu bisavô branco, não sabe do que está falando. É o que eu acho.”p.88-90

Comentários de leitores do clube de leitura:

“Obrigado  pela indicação de mais essa leitura, atual e humana, de um grupo sofrido e invisibilizado,  tendo, no entanto, atitudes tão dignas e solidárias.  A narrativa feita por uma das personagens torna os fatos verossímeis e nos traz identificação com toda a ação,  sofrendo com eles as dificuldades, alegrando-nos com suas reviravoltas, buscando com eles soluções.  Uma bela leitura de uma jovem escritora!”

“Obrigado a todos pelas ricas contribuições e novos olhares!”

“Boa noite pessoal! Mais um encontro especial, com troca de experiências e vivências, obrigada a todos pela participação!”

“Foi muito bom mesmo. Aprendi muito. Obrigada colegas.           

“Muito obrigada pelo encontro! Foi ótimo.”

Para conhecer a autora:

Próximo livro e data prevista para as próximas discussões:

  • 29- Foram selecionados dois contos  –  28/12/23
    Venha ver o pôr do sol – Autora: Lygia Fagundes Telles, brasileira
    O sonho de mamãe – Autora: Alice Munro, canadense 
  • 30- O sol é para todos – 25/01/24
    Autora: Harper Lee, estadunidense

Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês.

O tema do  clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances  escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”

 
Autora do livro Lilia Guerra

 
Foto Associada Eneida Oliveira Lima


Foto Associada Angela Almeida Garrido


Foto de tela  com os participantes do Clube de Leitura

AEAMG