Clube de Leitura LER PARA TECER AEAMG – 19º Encontro

Prezados(as) Associados(as)

No dia 23 de fevereiro de 2023 foi realizado, por videoconferência, o décimo-nono encontro do Clube de Leitura LER PARA TECER AEAMG. “Um mapa todo seu”, de Ana Maria Machado foi o livro lido pelos participantes do Clube de Leitura e discutido no décimo-nono encontro. A coordenadora Terezinha Pereira nos relata sobre o encontro:

Sobre “Um mapa todo seu”

“Um mapa todo seu” é um romance instigante, que leva o leitor ao final do século XIX a recontar a história de amor de duas personalidades marcantes da história brasileira. De um lado, Eufrásia Teixeira Leite, uma mulher à frente de seu tempo e uma das primeiras grandes investidoras e empresárias do país. De outro, o jornalista, político e diplomata Joaquim Nabuco, figura essencial no processo de abolição da escravatura no Brasil.

Mas Eufrásia e Nabuco não estão retratados apenas por meio de documentos históricos. Eles aparecem em suas vidas íntimas, recriadas com vivacidade e precisão nas linhas de Ana Maria Machado. São pessoas voluntariosas, incertas quanto ao futuro, que aos poucos constroem suas jornadas de amores e frustrações, de vitórias e amarguras. Ao mesclar ficção com fatos reais, a narrativa ganha outra dimensão: ela se desloca por territórios ainda não mapeados — a liberdade dos escravos e a autonomia feminina — e se torna, também, o panorama de um momento crucial da história do país.

A autora: Ana Maria Machado

Ana Maria Machado é carioca. Foi pintora, jornalista e professora universitária antes de se tornar uma das escritoras brasileiras mais importantes da atualidade.

Tem mais de cem livros publicados, no Brasil e em outros dezoito países, com mais de vinte milhões de exemplares vendidos. Ao longo de mais de quarenta anos de carreira, escreveu obras para leitores de todas as idades, incluindo dez romances.

Recebeu inúmeras condecorações por sua produção literária, com destaque para o Prêmio Hans Christian Anderson — o mais prestigiado da literatura infantil — e o Prémio Machado de Assis, pelo conjunto da obra. Em 2003, foi eleita para a Academia Brasileira de Letras. Alguns livros publicados, entre dezenas de livros infantojuvenil, os romances: Um mapa todo seu, Tropical sol da liberdade, Canteiros de Saturno, Um mapa todo seu, O mar nunca transborda, A audácia dessa mulher, Infâmia (vencedor do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura) e também Recado do Nome (1976), sobre a obra de Guimarães Rosa.

Trechos transcritos da edição: Ana Maria Machado

( 1941). Um mapa todo seu. (romance). 1ª. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015:

“Qualquer que fosse seu nome, aos olhos de Quincas era uma Vênus.

Digamos que se chamasse Zizinha. Ou algo assim. Toda moça tinha um apelido familiar em diminutivo. Vinha da infância e ficava para sempre. Um nome carinhoso. Ajudava a evitar que a bebezinha ou menina pequena fosse chamada de Domitila, Deodorina, Erotildes ou Eufrásia, como mandava a pia batismal.

Quincas já a avistara de longe, na azáfama do cais, cercada de amigos e familiares, tranquila e altiva em meio à movimentação de escravos, vendedores ambulantes, carregadores, marinheiros. Tinha uma vaga lembrança de que já a vislumbrara antes alguma vez, também em um lugar amplo, ao ar livre, cercada de gente. Numa charrete aberta que passara ao longo da enseada de Botafogo, diante do Pão de Açúcar? Talvez. Quando? A memória não o acudia. Mas desta vez o rapaz prometia a si mesmo que não a perderia de vista.”p.7

“Esguia, de porte altivo e gestos graciosos, a moça dirigia aos que a cercavam uma eventual palavra em voz baixa, de quando em vez acompanhada por um sorriso discreto. Mas o olhar a todo momento se afastava do grupo em torno e se perdia ao longe, em terra, demorado. Como se quisesse sugar o vaivém das pessoas, o casario em volta, as pedras da rua, a distante linha de montanhas que contornava a baía, o verde intenso das palmeiras, bananeiras e das redondas copas de mangueiras. Olhar de quem pretendia guardar dentro de si cada rendilhado em ferro das sacadas, 8 cada fachada de azulejos nos sobrados, cada turbante, pano da costa e conjunto de colares das doceiras com seus tabuleiros, cada carroça ou carruagem cujas rodas golpeavam as pedras do calçamento irregular, sacudindo todo o veículo. E mais o recortado caprichoso do paredão de granito ao fundo, entremeado de veludo vegetal sob o cristalino azul do céu, colorido apenas por uma ou outra pipa que algum moleque empinava num morro.

Era inegável. O olhar da moça acariciava a paisagem. Um afago de despedida. Como se estivesse se preparando para longa ausência e precisasse se abastecer de trópico e sol, em farta provisão para a carência deles, que a esperava do outro lado do oceano.”p.7-8

“Como pouquíssimas brasileiras de sua idade e seu tempo, Zizinha podia ser dona de seu nariz. Bastava ser firme. Ainda que não tivesse modelos de comportamento nem mapas anteriormente traçados a lhe indicar caminhos já abertos.

Mas não era capaz de calcular com exatidão o preço a pagar.”p.19

“Vou ter de buscar outros exemplos ou criar meus próprios modelos. Ninguém me deixou um mapa pronto, a definir esse novo território em que decidi me aventurar, ou me apontar caminhos a seguir, já trilhados e sinalizados. Não que eu saiba, pelo menos. No entanto, estou disposta a arriscar. Posso não ser a primeira pessoa do meu sexo nessa procura. Seguramente deve haver precursoras e companheiras da mesma sorte, ainda que não falemos disso umas com as outras e não troquemos ideias e experiências que possam servir de bússola. Mas quero estar entre as primeiras. Faço questão. Não posso deixar de fazê-lo. Ou, pelo menos, tentar. Para isso, tenho condições de autonomia que apoucas mulheres foram dadas.”p.61

“No entanto, por mais que o trabalho o absorvesse, por sua vez Nabuco não deixava de seguir de longe as conquistas de Zizinha. Conquistas financeiras, todas, pois na vida pessoal ela mantinha sempre um recato admirável sob todos os aspectos, ainda mais quando se levasse em consideração o constante assédio de pretendentes interessantes. À distância, chegavam a Quincas alguns ecos desse efeito forte causado pela presença da moça na aristocracia parisiense. O nome de Eufrásia Teixeira Leite era repetido com admiração e respeito.”p.140

Comentários de leitores do clube de leitura:

“Amei a narrativa de Ana, muito bem posta no meio de minhas flores preferidas: beijos e margaridas. Eu comprava Recreio para os meus filhos. Era muito boa. Acho que existe hoje (?).”

“Boa noite a todos! Adorei nosso encontro, com tanto tema interessante!”

“Obrigado sempre pela coordenação leve e generosa! Obrigado ao grupo pelo rico compartilhamento!”

“Mais uma vez tivemos um encontro maravilhoso e com um título/autora brilhante. Agradeço pela troca de conhecimentos literários e históricos. Agradeço pelos destaques dos trechos extremamente poéticos, que muitas vezes remeteu aos deuses gregos e romanos e aos nossos orixás. Os dois personagens principais são envolventes, belos e a frente do seu tempo… Joaquim Nabuco, um abolicionista, que após longos estudos e amadurecimento se transformou no protagonista da libertação dos escravos, apesar de não ter sido da forma que ele desejou (com amparo social, educação e moradia). E Eufrásia com sua sede de liberdade, rica e empreendedora visionária no ramo títulos bancários e ações na Bolsa das grandes empresas mundiais. E um amor… intenso, mas preso às amarras da distância, família e divergências políticas.”

“O encontro de ontem foi maravilhoso, como sempre. Gratidão por nos conduzir nestes momentos de cultura, reflexão e aprendizado. Gratidão colegas pelas trocas. A gente sai sempre tão enriquecida a cada mês… É muito bom!”

“Foi muito bom participar com vocês. Foi muito enriquecedor.”

Para conhecer a autora:

https://youtu.be/JvxR93MV9I0

https://youtu.be/tpSwct_r8do

Próximos livros e datas previstas para cada discussão:

  • 20- A manta do soldado. 30/março /2023
    Autora: Lídia Jorge (portuguesa)
  • 21- Úrsula. 27/abril/2023
    Autora: Maria Firmina dos Reis (brasileira)

Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês.

O tema do clube de leitura “LER PARA TECER AEAMG” é a leitura de livros de romances escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”

Inscreva-se no Clube de Leitura Ler para Tecer e venha conhecer este instigante universo dos livros!

 
Capa livro “Um mapa todo seu”
 
Foto da autora – Ana Maria Machado
 
Foto da leitora Marta Inês com o livro do mês
 
Foto de tela – Participantes 19º Encontro Clube de Leitura
 

Biografia: ANA MARIA MACHADO

 
RFI Convida Ana Maria Machado
 
AEAMG