CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER – 13º ENCONTRO

Prezado(a)s Associado(a)s,

No dia 25 de agosto de 2022, foi realizado, por videoconferência, o décimo-terceiro encontro do Clube de Leitura LER PARA TECER AEA-MG. O livro discutido pelos 15 leitores presentes foi “O QUINZE”, da autora brasileira Rachel de Queiroz. 

Sobre “O quinze”:

O Quinze, romance de Rachel de Queiroz, é uma obra de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca. O título faz referência histórica à prolongada seca que afligiu o Ceará em 1915. O texto narra o drama vivido pela família de Chico Bento que, sem condições financeiras para escapar do sertão cearense, enfrenta a travessia até Fortaleza a pé. Em paralelo à história dos retirantes, é contada a história do amor não concretizado entre a professora Conceição e o proprietário rural Vicente.

O estilo é uma prosa forte e dura, sem grandes juízos de valor: a seca como ela é. E ela é árida, difícil, assustadora e impiedosa.

Em 1930, com apenas vinte anos, Rachel de Queiroz se projetou na vida  literária do país através da publicação desse romance. O livro teve grande repercussão no Rio de Janeiro, recebendo elogios de Mário de Andrade e de Augusto Schmidt.

Até aos dias de hoje, o romance O quinze teve mais de 100 edições. Além disso, foi traduzido e publicado em espanhol, inglês, italiano, espanhol, japonês, alemão.

Trechos:

“Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra da mesma cruz.” Cap. 12  p.39

“De vez em quando, porém, a avó tinha que repreendê-la por quase não comer, por sempre chegar em casa atrasada, por consumir todo o ordenado em alimentos e purgantes para os doentinhos do Campo; ela respondia, rindo:

— Mãe Nácia, eu digo como a heroína de um romance que li outro dia: “Não sei amar com metade do coração…” Cap. 23  p.82

“Recordando a labuta do dia, o que o dominava agora era uma infinita preguiça da vida, da eterna luta com o sol, com a fome, com a natureza”. Cap. 8  p.26

“Ora o amor!… Essa história de amor, absoluto e incoerente, é muito difícil de achar… eu, pelo menos, nunca o vi… o que vejo, por aí, é um instinto de aproximação muito obscuro e tímido, a que a gente obedece conforme as conveniências… Aliás, não falo por mim… que eu, nem esse instinto… Tenho  a certeza de que nasci para viver só…”. Cap.26  p.96

“Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas.

– Mãezinha, cadê a janta?

– Cala a boca, menino! Já vem!

– Lá vem o quê?…

Angustiado, Chico Bento apalpava os bolsos… nem um triste vintém azinhavrado…” Cap.9  p.29

Obs: Os trechos citados acima foram copiados da 44ª. edição: O quinze. Rachel de Queiroz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1990.

Sobre Rachel de Queiroz:

Rachel de Queiroz, romancista, cronista, jornalista, nasceu em Fortaleza, Ceará, no dia 17 de novembro de 1910. Faleceu no Rio de Janeiro, em 04 de novembro de 2003.  Até aos 10 anos de idade, viveu com a família na Fazenda Junco, em Quixadá. Em 1921, ingressou no Colégio Imaculada Conceição, diplomando-se professora, em 1925, com apenas 15 anos.  

Em 1930, pouco antes de completar 20 anos, Rachel de Queiroz se projetou na vida literária do país através da publicação do romance “O Quinze”. A consagração de Rachel de Queiroz veio em 1931, quando a escritora foi ao Rio de Janeiro receber o prêmio  “Graça Aranha de Literatura”, na categoria melhor romance. Em 1932, ela lançou o romance “João Miguel, ainda dentro do enfoque social dos problemas da seca e do coronelismo no Nordeste.

A carreira de jornalista de Rachel de Queiroz teve início no Ceará, quando escrevia para o jornal “O Ceará” e colaborava também para o jornal “O Povo”, ambos de Fortaleza.A partir de 1939, colaborou com o “Diário de Notícias”, “O Jornal” e a revista “O Cruzeiro”, onde publicou, em quarenta edições, em folhetins, o romance “O Galo de Ouro”.

A partir de 1988, colaborou semanalmente para os jornais “O Estado de São Paulo” e “Diário de Pernambuco”. Rachel de Queiroz escreveu mais de duas mil crônicas, que foram reunidas e publicadas em diversos livros.

Rachel de Queiroz traduziu para o português mais de quarenta obras. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura do Ceará. Participou da 21.ª Sessão da Assembleia Geral da ONU, em 1966, onde serviu como delegada do Brasil, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem. Foi membro do Conselho Federal de Cultura desde a sua fundação em 1967, até sua extinção em 1989 e, integrou o quadro de sócios efetivos da “Academia Cearense de Letras”.

Foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, tomando posse no dia 4 de novembro de 1977, ocupando a cadeira n.º 5.

Em 1992, com 82 anos, Rachel de Queiroz publicou “Memorial de Maria Moura”. A obra, conta a vida de Maria Moura, órfã, que se envolve em brigas com seus primos, por uma questão de herança de terras. Escrita em estilo narrativo, à maneira de uma telenovela, a obra foi adaptada para a televisão na minissérie “Memorial de Maria Moura”, que foi sucesso de audiência.

Rachel de Queiroz recebeu diversos prêmios, entre eles: Prêmio Machado de Assis (1957) pelo conjunto de sua obra, Prêmio Nacional de Literatura de Brasília (1980) pelo conjunto de obra, Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará (1981), Medalha Rio Branco, do Itamarati (1985), Prêmio Luís de Camões (1993), sendo a primeira mulher a receber essa honraria, Título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2000).

Família: Rachel foi casada com o poeta José Auto da Cruz Oliveira de 1932 a 1939, ano em que se separou. Juntos tiveram uma filha, Clotilde, que faleceu com 18 meses, vítima de septicemia. Em 1940, Rachel casou-se com o médico Oyama de Macedo, com quem viveu até 1982, ano em que ficou viúva.

Algumas obras de Rachel de Queiroz: O Quinze, 1930, João Miguel, 1932, O Galo de Ouro, 1950, Lampião, 1953, Dora, Doralina, 1975, Memorial de Maria Moura, 1992, Memórias de Menina, 2003, Pedra Encantada, 2011

Comentários de leitores do clube de leitura:

“Nossa, acabei de ler uma cena do livro tão triste que parei a leitura. Não consigo ler mais por hoje. O livro é ótimo, mas muito triste! Não sei se meu coração vai aguentar.”

“Estou igual a você. Tem partes que eu tenho que parar, respirar e só retomar depois.”

“Terminei de ler o livro indicado do mês. E vi o filme ontem. O filme me pareceu bem fiel ao livro, na maior parte.”

“Lendo o livro agora, entendi o impacto que deve ter causado a descrição de uma realidade tão dura, aos olhares do povo do Sudeste. Impactante demais!”

“ Estou ja bem perto do final do livro. Mas tenho lido devagar. É muito triste pensar nas crianças… E o desespero da mãe, que não tem o que dar.”

“É tristeza atrás de tristeza. Vida dura, só sofrimento. Já chorei meus baldes por aqui. Está sendo muito difícil reler O Quinze. Nos meus 12 anos acho que nem entendi uma boa parte das tragédias. Ainda não tinha repertório emocional.”

“Pensar que ela não tinha nem 20 anos quando escreveu O quinze.” “Incrível Rachel de Queiroz ter que escrito um livro tão contundente e realista aos 20 anos de idade. Genial! Não é à toa que continua atual. Infelizmente.”

“Apesar de sofrido, gosto muito do tema. Sobre migração, luta pela sobrevivência, mazelas humanas a que devemos ficar atentos para enxergar o outro, que pode estar nas calçadas, bem do nosso lado.” “Adorei.” “Muito bom nosso encontro!! Obrigada!! Boa noite a todos.”

“Gostei demais do nosso encontro. Abraços” “Enriquecedor! Obrigada e boa noite a todos!” “Maravilhoso encontro.” “Aprendo muuuuito com vocês!” “Gratidão por tudo, principalmente, pela paciência e compreensão!”

“Os livros nos levam a momento mágicos.  Como o que vivemos há pouco.” “Livro emocionante! Encontro Incomparável.”

“Mais um bom livro e uma conversa com ricas contribuições do grupo, a simpática condução da mediadora e a reflexão que nos fica: até que ponto a indústria da fome, da seca, da loucura, das doenças alimentam maus políticos e continuidade das oligarquias?”

“Pessoal, perdi o encontro tão rico! No próximo espero não faltar!”

Próximos livros e datas previstas para cada discussão:

  • 14 – Cachorro Velho. 29 / setembro / 2022.  Autora: Teresa Cárdenas (Cuba)
  • 15- Minha vida de menina. 27 /outubro / 2022.  Autora: Helena Morley (Brasil)

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Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês.

O tema do  clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances  escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”

Terezinha Pereira
Em 31 de agosto de 2022

Sobre o filme “O quinze”:

O QUINZE – Filme escrito e dirigido por Jurandir de Oliveira, baseado no romance de Rachel de Queiroz.

Veja o filme no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=b0sSvRWRLTA

Sinopse: Ano de 1915, sertão central do Ceará. Uma grande seca dizimou boa parte da população local. A jovem professora Conceição (Karina Barum), que trabalha em Fortaleza, passa as férias na fazenda de sua avó, Mãe Inácia (Maria Fernanda Meirelles), no município de Quixadá. Lá ela convive com os problemas da seca, além de se envolver com seu primo Vicente (Juan Alba). Ele é fazendeiro e está apaixonado pela prima, mas no momento concentra sua atenção no combate a uma praga de carrapatos e em salvar o gado da fome. No município também vive Chico Bento (Jurandir Oliveira), que trabalha como vaqueiro na fazenda de Dona Marocas. Quando recebe ordem de se retirar do local, Chico negocia com Vicente sua pequena criação em troca de uma burra velha e uma quantia em dinheiro. Ele então parte com sua família rumo a Fortaleza, enfrentando as dificuldades do percurso.


Foto da leitora Márcia Guedes


Foto da leitora Valéria Leite

AEAMG