CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER – 11º ENCONTRO

Prezado(a)s Associado(a)s,

No dia 30 de junho de 2022, foi realizado, por videoconferência, o décimo-primeiro encontro do Clube de Leitura LER PARA TECER AEA-MG. O livro discutido pelos 11 leitores presentes nesse encontro foi A vida invisível de Eurídice Gusmão, da autora brasileira, Martha Batalha.

Sobre A vida invisível de Eurídice Gusmão:

A vida invisível de Eurídice Gusmão (2016), romance de estreia de Martha Batalha, retrata o Rio de Janeiro dos anos 40. Quando a personagem Guida Gusmão, perdida num amor proibido, desaparece da casa dos pais sem deixar rasto, a irmã Eurídice promete ser a filha exemplar, a que nunca faria algo que trouxesse novo desgosto aos pais. E Eurídice torna-se a dona de casa perfeita, casada com Antenor, um bom marido, apesar de tudo, ou apesar do nada em que a vida de Eurídice se tornou. A vida de Eurídice Gusmão é em muito semelhante à de inúmeras mulheres nascidas no início do século XX e educadas apenas para serem boas esposas. Mulheres como as nossas mães, avós e bisavós, invisíveis em maior ou menor grau, que não puderam protagonizar a sua própria vida. Capaz de abordar temas como a violência, a marginalização e até a injustiça com humor, perspicácia e ironia, Marta Batalha é acima de tudo uma excelente contadora de histórias que tem como principal compromisso o prazer da leitura.

Em maio de 2019, estreou, no festival de Cannes, França, o filme A vida invisível, dirigido por Karim Aïnouz, inspirado no livro de Martha Batalha. O filme ganhou o prêmio da “Mostra Um Certo Olhar”do festival de Cannes. Foi lançado nos cinemas brasileiros em de novembro de 2019, pela Vitrine Filmes. No mesmo ano, o filme foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema entre doze longas brasileiros para representar o Brasil no Oscar de melhor filme estrangeiro na 92ª edição do prêmio, porém não conseguiu entrar na lista dos dez pré-indicados.


Trechos
:

“Porque Eurídice, vejam vocês, era uma mulher brilhante. Se lhe dessem cálculos elaborados ela projetaria pontes. Se lhe dessem um laboratório ela inventaria vacinas. Se lhe dessem páginas brancas ela escreveria clássicos. Mas o que lhe deram foram cuecas sujas, que Eurídice lavou muito rápido e muito bem, sentando-se em seguida no sofá, olhando as unhas e pensando no que deveria pensar.

E foi assim que concluiu que não deveria pensar.”

Martha Batalha (1973). A vida invisível de Eurídice Gusmão. Romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 12

“Zélia, a vizinha da casa ao lado. Zélia era uma mulher de muitas frustrações. A maior delas era não ser o Espírito Santo, para tudo ver e tudo saber. Zélia estava na verdade mais para Lobo Mau do que para Espírito Santo, porque tinha olhos grandes para ver melhor, ouvidos grandes para ouvir melhor e uma boca muito grande, que distribuía entre os vizinhos as principais notícias do bairro. Zélia também tinha um pescoço de tartaruga, que parecia expandir-se por dentro da gola toda vez que alguém de seu interesse passava pela frente de casa. Aquela mulher era mais esquisita que um ornitorrinco, e um tipo como aquele só não causava mais estranheza porque Zélia era apenas uma entre tantas da mesma laia que habitavam aquele tempo e lugar.”

Martha Batalha (1973). A vida invisível de Eurídice Gusmão. Romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p.15

“Álvaro passou três horas caminhando pelo Rio. Viu homens agonizando em vômitos de sangue e crianças conversando com mães que já estavam mortas. Doentes em delírio, expulsos de suas casas. Profetas de longas barbas anunciando o fim do mundo. Ouviu os gritos de antes da morte que vinham de janelas fechadas e contou as centenas de corpos nas ruas, em vão. Quando terminava a conta outro defunto aparecia, ou a carroça da prefeitura chegava para rebocar os corpos, e mal ia embora outros tantos já estavam nas soleiras, esperando a hora que vem depois da hora da morte, que era a de competir por um espaço numa das covas comunitárias da cidade, abertas dia após dia.”

Obs: O trecho acima faz uma referência ao cenário do Rio de Janeiro em 1918, em plena pandemia da gripe espanhola.

Martha Batalha (1973). A vida invisível de Eurídice Gusmão. Romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p.19

“- Olha aqui, Antenor”, ela disse, aproximando o caderno do marido. “Anotei aqui todas as minhas receitas. Você acha que posso publicar?

[…]

‘Deixe de besteiras, mulher. Quem compraria um livro feito por uma dona de casa?”

Martha Batalha (1973). A vida invisível de Eurídice Gusmão. Romance. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p.31-32


Sobre a autora
:

Martha Batalha nasceu em Recife em 1973, mas cresceu na Tijuca, no Rio de Janeiro. Formou-se em jornalismo com mestrado em literatura pela PUC-Rio, trabalhou nos jornais O Dia, O Globo e Extra e criou a editora Desiderata, hoje parte da Ediouro. Mudou-se para Nova York em 2008, onde completou o mestrado em Publishing da New York University e recebeu a maior distinção do curso, a Oscar Dystel Fellowship. Deixou o mercado editorial americano para se tornar escritora. Feito raro para um livro de estreia, A vida invisível de Eurídice Gusmão já teve os direitos vendidos para o cinema e para mais de dez editoras estrangeiras.


Comentários de leitores do clube de leitura:

Que livro bom! Muito divertido!

Eurídice é ótima(até o nome!😉)mas minha personagem favorita é Guida: como é prática e determinada! O capítulo em que ela se livra da sogra é o melhor de todos. Engraçado demais! Ela e Antônio formam um casal muito “fofo”.

Interessante que as mulheres amargas, as “vilãs” Zélia e Amélia, são tiranas com os homens. E tão infelizes quanto Eurídice e Dona Ana, no final das contas.

Ser mulher já foi bem mais difícil, ainda bem que muita coisa mudou. Até porque somos maioria absoluta, não é?

Muito engraçada essa caracterização de Zélia. A imagem que faço em minha cabeça é dessas de desenho animado, com os olhos saindo da cara para alcançar fechaduras e frestas. rsrs.

Ótima a reunião, como sempre muito interessante e prazerosa.

Adorei . Sempre muito bom nosso papo! Boa noite, pessoal!

Gosto bem dos nossos encontros!

Obrigada por mais um ótimo encontro!

Que nossas leituras nos tragam mais do que conhecimentos, aprendizados !

Como sempre, muito enriquecedor nosso encontro! Obrigada!


Próximo livro e data prevista para discussão:

  • 12- A distância entre nós – Thrity Umrigar − 28/ julho/ 2022

O tema do clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”

Terezinha Pereira – Coordenadora do Projeto Clube de Leitura Ler para Tecer

AEAMG