Clube de Leitura Ler para Tecer – 23º Encontro

Prezados(as) Associados(as)

No dia 29 de junho de 2023 foi realizado, por videoconferência, o vigésimo-terceiro encontro do CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER AEA-MG.

“Humanos Exemplares”, romance da escritora brasileira, Juliana Leite, foi o livro lido pelos participantes do Clube de Leitura e discutido nesse encontro. Sua coordenadora, Terezinha Pereira, nos relata sobre o encontro:

Sobre “Humanos exemplares”

“Humanos Exemplares” é um romance sobre família e amor, sobre envelhecer e o tempo das ausências e da memória.

A narradora-personagem Natália é uma mulher velha, muito velha, que passa os dias reclusa em seu apartamento à espera de telefonemas da filha que mora em outro país. Viúva e última sobrevivente de um grande grupo de amigos, ela carrega os seus queridos humanos como um buquê íntimo de desaparecidos, companhias invisíveis que povoam a casa a partir de suas memórias. Vicente, seu falecido marido, era professor de geografia e foi perseguido pela ditadura. Sarah, sua melhor amiga, dona de uma loja de biscoitos, era uma mulher de temperamento complicado. Jorge, um morador de rua, lia cartas prevendo o futuro e recebia doses de Campari em troca.

Natália vive a solidão passeando entre a janela da sala e a mesa da cozinha, às vezes preparando torradas com geleia que a transportam para cenários vívidos em torno dos quais a vida acontecia. Ela sabe que existem mais novidade no que passou do que no presente — e que, portanto, cultivar aquilo que ficou para trás é uma forma de se mover, ainda que parada.

Com simplicidade e uma linguagem singular, Juliana Leite monta uma coleção de sujeitos comuns que, a partir do amor, das relações familiares e da amizade, de dores e equívocos, compõem um mosaico poderoso e delicado, num romance de rara sensibilidade.

A autora:

Juliana Leite nasceu em Petrópolis/RJ, em 1983. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde cursou Comunicação Social na UERJ, instituição pela qual também possui um mestrado em Literatura Comparada, pesquisando as interfaces entre a leitura e as tecnologias digitais. É pós-graduada em Gestão Cultural e em Produção Editorial. Publicou contos em antologias como 14 novos autores brasileiros (Mombak), organizada por Adriana Lisboa, e É tudo mentira – a corrida eleitoral na ficção de 22 escritores, da revista Época. Em 2017, foi contemplada na residência artística Publication Intensive, da revista de arte contemporânea Triple Canopy (NY), reunindo-se a 12 artistas de todo o mundo para investigação e interlocução de linguagens. Seu elogiado primeiro romance, “Entre as mãos”, foi lançado em 2018 pela Editora Record.

Trechos do romance discutido – copiados da edição: “Juliana Leite (1983). Humanos exemplares. (romance-1ª ed). São Paulo: Companhia das Letras, 2022

“Ela sente o grande prazer do pão molhado entre os dentes e de repente fica um pouco encabulada. Talvez devesse pedir autorização por escrito a alguém para, além de seguir viva a essa altura, ainda por cima sentir prazer na língua, talvez esse fosse o procedimento correto, ver se ainda é permitido aos humanos revirar os olhos de delírio.” p.11

“Há muito tempo a velha mãe sabe farejar os lugares, os melhores cantos, e assim dizer se eles são realmente seguros como refúgios. É bom lembrar que ela não chegou aos oitenta anos à toa, e que passou desses oitenta anos e depois chegou aos noventa anos e também passou deles, e agora, vejam só, aí estão os

cem anos de uma velha — aí estão. A velha não costuma usar esse trunfo, o da idade como prova de sucesso, mas quando é preciso ela faz isso.”p.17

“A essa altura da vida de uma velha ela pode mesmo afirmar, garantir que tudo passa, porém, e talvez isso ainda seja uma novidade para a filha, cada coisa passa a seu modo, e algumas vezes esse modo pode ser bastante lento e grosseiro e áspero.”p.120

“Ela pretende lembrar à menina de que o problema de viver demais, de habitar o planeta por mais tempo do que o aconselhável, é que você vira testemunha de um mundo que se apaga, bem diante de você ele se apaga pessoa a pessoa, amor a amor, amigo a amigo e gato a gato, por sorte restando a companhia das árvores. Sabe-se lá quando a velha poderá se encontrar novamente com as árvores, que a superam em matéria de tempo. Ela não sabe nem mesmo se ainda estará viva quando for seguro abrir as portas outra vez, e se as árvores ainda a reconhecerão depois disso.”p.73

“Não era muito espontânea na tal tarefa de existir, ainda mais quando era preciso existir todos os dias. Mas não entrava em pânico nem saía por aí correndo aos berros, não, ela apenas controlava os braços e imitava o que os outros faziam — gestos, gostos, velocidades. Os humanos ao redor pareciam mais preparados, mais firmes e assuntados do que ela quanto à vida comum e, portanto, imitá-los parecia o mais certo a fazer. Foi gentil imitando os gentis e amorosa imitando os amorosos, foi esperta imitando os espertos e ágil também. Tentou imitar os temperados, mas nisso não foi tão próspera. Escolheu atentamente suas turmas, e nisso essa filha foi realmente muito astuta porque assim teria sempre bons exemplares humanos por perto, gente com recursos para serem imitados em caso de urgência.”p.153

“ É mesmo uma pena que tão poucos humanos saibam de antemão que estão morrendo e consigam voltar para casa para se trocar, para tomar um banho ou quem sabe comer uma última paçoca. São realmente bem poucos os que têm tempo de fazer isso.”p.214

Comentários de leitores do Clube de Leitura:

“Agradecida por mais um encontro em que nem percebemos o tempo passar… muito bom, como sempre enriquecedor.”

“Adorei nosso encontro!

“Bom dia! Gostaria de deixar mais uma reflexão sobre nossa reunião de ontem. Ser idoso é participar de mais uma fase da vida, a última, e isto amedronta a maioria das pessoas. Perdemos amores, colágeno, memórias e ganhamos, vivências, saudades e dores. Cada idoso, antes de tudo, é um indivíduo. Tem o dançarino, o fofoqueiro, o chato, cri-cri, o tô nem aí, leitor, o dengoso, a cantora, o guloso , etc… Às vezes, o que é importante pra nós, o idoso não liga e vice-versa. Todos esperam uma face sorridente, mãos dadas e olhos nos olhos, assim como todo indivíduo… Idosos tem muito a nos ensinar e querem aprender mais e mais.”

“Terezinha e grupo, mais uma vez muito obrigado pelo rico encontro, com o livro a despertar subjetividades, vivências e sentimentos. Usando a expressão da autora, que a leitura, o convívio com esse grupo e nossas trocas “funcionem como um cajado na travessia”!”

“Temos que ter olhos para todas as gentes. Ninguém pode nos ser invisível no respeito e como parte integrante de um todo! Somos fortes na complementariedade! O padre Fábio fala da diferença em ser útil e ser amado em um vídeo sobre o idoso. Já viram? O velho é um tesouro pra mim…gosto de beber dessa fonte!! O processo de envelhecimento está bem presente e o livro me trouxe grandes reflexões para um caminho mais saudável a seguir ou não.”

Para conhecer a autora 

Próximo livro e data prevista para as próximas discussões:

  • 24º – A festa de Babette – 27/julho/2023
    Autora: Karen Blixen ( dinamarquesa) e Conto: A caolha
    Autora: Júlia Lopes de Almeida (brasileira).
  • 25º– Água fresca para as flores – 31/08/23
    Autora: Valérie Perrin (francesa).

Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês.

O tema do clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”


Capa de humanos exemplares


Foto da autora Juliana Leite


Foto da leitora Márcia Wanderley Vieira Marques


Imagem de tela Humanos Exemplares

AEAMG