Release: encontro 35º. Clube de Leitura Ler para Tecer AEAMG

No dia 27 de junho de  2024, foi realizado, por videoconferência, o trigésimo-quinto encontro do CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER AEA-MG.

Três contos da autora canadense, Alice Munro foram lidos  pelos participantes do Clube de Leitura para serem discutidos nesse encontro.

A autora: Alice Munro

Nascida em 10 de julho de 1931, em Ontário, Canadá, Alice ganhou o Nobel de Literatura em 2013. Foi a primeira vez que a academia premiou um autor que escreve apenas contos, mostrando com isso como Munro realmente poderia carregar o título de grande contista.

Alice e seu primeiro marido também foram livreiros: juntos abriram uma livraria, Munro’s Books, que ainda hoje existe. Também era publicamente contra a desigualdade de gênero.

Seus livros são frequentemente ambientados em cidadezinhas do interior, seus relatos centram-se em relacionamentos humanos vistos pela perspectiva da vida cotidiana. Com narrativas impactantes, apesar de singelas, e em sua maioria serem sobre o cotidiano, nos transportam para uma fuga da rotina, mas sem perder a visão da realidade e da complexidade das relações humanas.

Alice Munro faleceu em 13 de maio de 2024.

Os contos:

      –  As crianças ficam

       – Ódio, amizade, namoro, amor, casamento

       – O urso atravessou a montanha

 Sobre os contos:

      –  As crianças ficam

Em “As Crianças Ficam” uma mulher abre mão das duas filhas para trilhar seu próprio caminho. Poderá haver, a partir deste dia, algum alívio ou um improvável perdão das filhas para essa mulher?

Trecho:

“Essa é uma dor aguda. Vai se tornar crônica. Crônica significa que será permanente, mas talvez não constante. Pode significar também que você não vai morrer por causa dela. Não se livrará dela, mas não vai morrer por causa dela. Não a sentirá a cada minuto, mas não passará muitos dias sem senti-la. E aprenderá alguns truques a fim de mitigá-la ou afastá-la, esforçando-se para não terminar destruindo o que, para ser alcançado, fez você se expor a ela. Não é culpa dele. Ele é ainda um inocente ou um selvagem, não sabe que existe no mundo uma dor tão duradoura. Diga a si própria que você vai perdê-las de qualquer maneira. Elas crescem. Para uma mãe, há sempre essa tristeza particular e ligeiramente ridícula. Elas esquecerão esse momento, de uma forma ou de outra vão renegá-la. Ou vão ficar girando a seu redor até que você não saiba o que fazer com elas, assim como aconteceu com Brian. E, mesmo assim, que dor! Para levar junto e se acostumar com ela, até que o sofrimento seja apenas pelo que passou, e não por um presente ainda possível.”

Alice Munro. As crianças ficam. In: O amor de uma boa mulher.1ª.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.203-237

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       – Ódio, amizade, namoro, amor, casamento

“Uma brincadeira de duas garotas leva ao núcleo anedótico do relato, que é a decisão da empregada do avô de uma delas que é órfã de mãe, a pedir demissão, para ir ao encontro de seu pai, viúvo um  tanto de aventureiro e sedutor quanto fracassado, e que sequer tomara conhecimento da existência dela. As meninas inventaram toda uma correspondência que aos poucos foi convertendo a austera e parcimoniosa empregada do avô, Johanna Parry em candidata a noiva.”

 

Trechos:

“Anos atrás, antes que os trens parassem de correr por inúmeros de seus ramais, uma mulher de rosto amplo e sardento e cabelo ruivo frisado foi à estação de trem e perguntou sobre remessa de mobília.

Era comum que o chefe da estação ensaiasse algum gracejo com as mulheres, especialmente as mais simples, que pareciam gostar daquilo.

– Mobília? – disse, como se ninguém nunca houvesse tido essa ideia antes. – Bom. Ora. De que tipo de mobília se trata?’

 “Pois onde, dentre a lista de coisas que planejava conseguir em sua vida,  havia qualquer menção ao fato de que seria a responsável pela existência no mundo de uma pessoa chamada Omar?”

Alice Munro. As crianças ficam. In: O amor de uma boa mulher.1ª.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.203-237

OBS: Esse conto foi adaptado para o cinema por Liza Johnson em 2014, com o título Amores Inversos.

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 – O urso atravessou a montanha

Com o Alzheimer (não-nomeado, mas supõe-se que seja) evoluindo, Fiona mesma pondera que o melhor é internar-se numa instituição, na qual uma das regras é: nos primeiros 30 dias, nada de contato com familiares. Então ao revê-la, Grant, seu marido, percebe que ela passou para o outro lado da montanha. Está longe dele. Como conciliar que aquela pessoa-centelha na sua vida o esqueça quase que inteiramente, que lhe seja alheia, quase que por vontade própria?

 

Trecho:

“Havia mais de um ano, Grant começara a notar um monte de bilhetinhos amarelos afixados por toda a casa. Isso não era uma novidade completa. Ela vivia escrevendo coisas – o título de um livro que ouvira ser mencionado no rádio ou as tarefas que queria se certificar de fazer naquele dia. Até mesmo sua programação para a manhã tinha de ser escrita – ele ficava admirado e comovido com sua precisão.

7h ioga. 7h30-7h45 dentes rosto cabelo. 7h45-8h15 caminhada. 8h15 Grant e café da manhã. Esses novos bilhetes eram diferentes. Presos nas gavetas da cozinha – Talheres, Panos de prato,

Facas de corte. Ela não podia simplesmente abrir as gavetas e ver o que havia lá dentro?”

Alice Munro. O Urso atravessou a montanha. In: “Ódio, amizade, Namoro, amor, casamento”. 2ª. ed. Trad. de Cássio de Arantes Leite. Biblioteca Azul. (Livro digital. Equipe Le Livros.) 2013

Podcast – comentário sobre esse conto:

 https://youtu.be/py3EZlQpLdo?si=g8RdjmHv_AI9bALS

OBS: Esse conto foi adaptado para o cinema, em 2006,  mantendo todas as suas qualidades, por Sarah Polley com o título, Longe Dela.

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Comentários dos participantes:

“Gostei muito de participar hoje da discussão.  Aprendo muito com vocês.”

“Obrigada a todas pelas ideias, como sempre tão enriquecedoras; faz com q eu veja a história através de diversos olhares. Obrigada  pela indicação de leitura.”

“Muito obrigada, colegas!! Vocês acrescentaram muito ao que pude depreender dos contos deste mês!”

“Adorei os contos. Muito interessantes e divertidos. E que mulheres maravilhosas! Me lembraram os contos da escritora americana Flannery O’Connor, mas o humor de Flannery é mais trágico. Obrigada pela ótima escolha mais uma vez.”

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Para conhecer a autora:

https://www.youtube.com/watch?v=EgKC_SDhOKk&t=11s

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Próximos livros e datas previstas para a discussão:

      36: A mãe da mãe de sua mãe e suas filhas – 25/07/24

                 Autora: Maria José Silveira (brasileira)

 

      37: O livro de Carolina-A improvável biografia de Carolina Machado de Assis – 29/08/24

                 Autora: Rosa Busnello (brasileira)

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Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês.

 

O tema do  clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances  escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”

 

Foto da autora

Foto de tela com os participantes do Clube de Leitura