Release – 46º encontro do Clube de Leitura – Ler para tecer
No dia 29 de maio de 2025, foi realizado, por videoconferência, o quadragésimo-sexto encontro do CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER AEA-MG.
Contos do livro “O calor das coisas” da autora brasileira, Nélida Piñon: Finisterre, I love my husband e O ilustre Menezes foram os três escolhidos para serem lidos e discutidos pelos participantes do Clube de Leitura para ser discutido nesse encontro.
Sobre os contos de O CALOR DAS COISAS, Nélida Piñon, discutidos nesse encontro:
Finisterre: A narradora em 1ª. pessoa, visita o padrinho de 60 anos, que mora em uma ilha na Galícia, Espanha. Ambos são galegos, raça forte e emotiva. O almoço e o passeio são cheios de imagens de carinho e ternura do padrinho. Enfim a narradora se despede como quem nunca mais vai voltar a ver as pessoas queridas que deixa na ilha.
I love my husband: Em um texto cheio de beleza, com metáforas brilhantes e uma ironia delicada, a narradora expressa seu amor pelo marido. No entanto, esse marido é um homem egoísta, machista, que não dá atenção ao que ela pensa ou sente. Ela acredita que, no fundo, ele tem razão ao querer ser o chefe da casa e decidir tudo do jeito dele. Ela faz parecer que é feliz assim, e pensa que é assim que as coisas devem ser. (Será?)
O ilustre Menezes: Esse conto é uma reescrita do conto “Missa do galo”, de Machado de Assis. Trata-se de uma reinvenção da história, construída a partir da transferência do ponto de vista narrativo. A história original é narrada pelo adolescente Nogueira, agregado da casa, e gira em torno da “conversação” que ele manteve com Conceição na noite de Natal, enquanto a casa dormia e ele esperava a hora da missa do galo. Nessa oportunidade, Conceição se transfigura, aos olhos de Nogueira, em uma mulher “lindíssima” e muito sensual que em nada lembra a mulher simplesmente “simpática” que todos conhecem no dia-a-dia familiar. No conto de Nélida Piñon, o narrador, é o Menezes, marido de Conceição, uma mulher educada num rigoroso sistema moralista. Menezes conta que tem o hábito de dormir fora de casa nas quintas-feiras, dia em que fica com sua amante Pastora. Apesar da impertinência da sogra, D. Inácia, ele ilude Conceição com as desculpas esfarrapadas, como por exemplo ir ao teatro sozinho com receio de ela se aborreça com as peças. Ele fala também de outras amantes. Nesse conto, predomina a atmosfera de século XIX, com linguagem no estilo Machado de Assis.
A autora: NÉLIDA PIÑON
Nélida Piñon nasceu em 3 de maio de 1934, no Rio de Janeiro e faleceu em 17 de dezembro de 2022 em Lisboa, Portugal. Foi enterrada no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras-ABL, no Rio de Janeiro. É filha de Lino Piñón Muíños e Olivia Carmen Cuíñas Morgado, de origem galega, Espanha. Formou-se em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro-PUC-RJ. Foi editora e membro do conselho editorial de várias revistas no Brasil e exterior. Também ocupou cargos no conselho consultivo de diversas entidades culturais em sua cidade natal. Estreou na literatura com o romance Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, publicado em 1961, que tem como temas o pecado, o perdão e a relação dos mortais com Deus. No romance A república dos sonhos, baseado em uma família de imigrantes galegos no Brasil, ela faz reflexões sobre a Galícia, a Espanha e o Brasil. Foi a primeira mulher a se tornar presidente da Academia Brasileira de Letras, entre 1996 e 1997. Publicou cerca de 12 romances, 5 livros de contos além de ensaios, crônicas, livros de memórias e livros infantis. O calor das coisas é um livro de contos que foi publicado em 1980.
Trechos dos contos
(copiados da edição: Nélida Piñon, O calor das coisas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. Edição digital):
Em Finisterre:
“Pedi ao padrinho que me explicasse a mim mesma, eu queria provar-me como se fosse um vinho rascante. Sim, você crescia frondosa, e não me levava o nome. Mas, em todas as solenidades estive perto. Acompanhei-te na primeira comunhão, nas formaturas, nas vigílias, te imaginei na penumbra fazendo-se mulher. Não tive filhos, talvez te nomeasse filha para privar com um sentimento que só intuí através de você. Você foi o segundo amor que tive, o primeiro destinei à minha mulher, que também amas, olha-nos ela agora à distância, ingênua e criança. Parece que não envelheceu. Sou quem lhe preserva a juventude. Ama-me sem saber que rejuvenesce graças ao meu empenho. Sou quem lhe oferece a custódia da juventude. E você, como se fará jovem um dia, se não estarei vivo para salvar-te?”
Em I love my husband:
“Não posso reclamar. Sou grata pelo esforço que faz em amar-me. Empenho-me em agradá-lo, ainda que sem vontade às vezes. Sinto então a boca seca, seca por um cotidiano que confirma o gosto do pão comido às vésperas, e que me alimentará amanhã também. Um pão que ele e eu comemos há tantos anos sem reclamar, ungidos pelo amor, atados pela cerimônia de um casamento que nos declarou marido e mulher. Ah, sim, eu amo meu marido.”
Em O ilustre Menezes:
“Só lamento a sogra a vigiar-me as saídas. Claro está que não as impede, carece de forças para isto. No entanto, teima ainda em dirigir-me expressões iradas a cada quinta-feira, quando regresso a casa na manhã seguinte. Sei que reprova o hábito de ausentar-me do leito conjugal uma vez na semana. Em certas noites, empenha seu prestígio para prender-me ao calor da sala, entretém-me com assuntos que me possam atrair. E porque não interrompe a fala, fico- lhe sempre a dever algumas palavras. Não me deixam a pressa e a própria D. Inácia dar por encerrada a palestra.”
Comentários de leitores do Clube de Leitura:
“Pois é, quem não participou perdeu uma excelente (como sempre) reunião! Obrigada, mais uma vez.”
“Aprendi muito. Até mudei de opinião. Gostei dos contos.”
“Como são boas essas reuniões, ampliam nossa compreensão!!!! Obrigada meninas e menino.”
“Sempre muito enriquecedores estes nossos encontros. Obrigada colegas. Eu adoro participar.”
“Obrigada a todos.”
“Como sempre, saio do nosso encontro mais robustecida emocional, intelectual e humanamente! Muito bom!”
Para conhecer a autora:
https://www.youtube.com/watch?v=3ZlwEa1FShs&t=7s
https://www.youtube.com/watch?v=o9RWhvq95Dg
Próximo livro e data prevista para a discussão:
47º. – O dia em que Selma sonhou com um ocapi, da autora alemã, Mariana Leky.
Data: 26 de junho de 2025
Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês, de 20h às 22h.
O tema do clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.
“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”
AEAMG