Clube de Leitura LER PARA TECER AEA – 16º Encontro

Prezados(as) Associados(as)

No dia 24 de novembro de 2022, foi realizado, por videoconferência, o décimo-sexto encontro do Clube de Leitura LER PARA TECER AEA-MG. O livro discutido pelos 14 leitores presentes foi “A elegância do ouriço”, da autora franco-marroquina, Muriel Barbery.

Sobre “A elegância do ouriço”
A elegância do ouriço tem como ponto central um prédio de luxo de Paris, prédio esse habitado pela família tradicional francesa. Pessoas ricas, esnobes e muito vazias. Pessoas que mantém relações superficiais umas com as outras, que invejam as conquistas e os bens materiais das outras, pessoas que se aturam, mas que não constroem nada juntas e que principalmente nunca reparam nos detalhes das pequenas coisas.

Nesse local, encontramos duas personagens que se contrapõe a todos os outros moradores. Paloma tem 12 anos, e é filha de um político influente, vive em uma família que se diz um tanto de esquerda, mas que na verdade não tem empatia nenhuma com ninguém e são bem egoístas. Paloma é uma garota sensível, inteligente e muito observadora que se sente bastante deslocada nessa família e começa um diário em que escreve algumas reflexões sobre o cotidiano, buscando nos pequenos detalhes algum sentido para a vida.

Outra personagem principal desse livro é Renné, a “concierge”, uma zeladora cinquentona, ranzinza, que para a maioria dos moradores do prédio é invisível, embora seja de grande importância para todos os moradores, uma vez que é ela quem rega as plantas e entrega as correspondências e atende às diversas necessidades dos moradores. Renné se aproveita da capa de invisibilidade que o cargo de zeladora garante para se proteger do mundo.

A chegada de um outro morador, o japonês Kakuro Ozu, ao edifício da Rua Grenelle 7 modifica a existência das duas narradoras. Embora Renée, desde as primeiras páginas do livro, estivesse deixando, ocasionalmente, pistas que poderiam levar à descoberta de seu verdadeiro eu, só Ozu escuta o que ela diz e reconhece a citação da frase inicial de Anna Karenina: “Todas as famílias felizes se parecem, mas as famílias infelizes o são cada uma a seu jeito”. E escutá-la parece ser a chave para desencantar o ouriço em que Renée se disfarça.

Trechos copiados da edição de A elegância do ouriço, da “Companhia das Letras”, de 2008:
“Fora o amor, a amizade e a beleza da Arte, não vejo muitas outras coisas capazes de alimentar a vida humana. O amor e a amizade, ainda sou muito nova para pretender alcançá-los de verdade. Mas a Arte… se eu tivesse de viver, isso teria sido toda a minha vida. Bem, quando digo Arte, vocês devem me entender: só falo das obras-primas dos mestres.”p.37

“Renée. Tratava-se de mim. Pela primeira vez alguém se dirigia a mim dizendo meu nome de batismo. Ali onde meus pais recorreriam a um gesto ou uma bronca, uma mulher, que agora eu achava que tinha os olhos claros e a boca sorridente, abria caminho para o meu coração e, ao pronunciar meu nome, estabelecia comigo uma proximidade da qual até então eu não fazia ideia.” p.43

“Quando me angustio, vou para o refúgio. Nenhuma necessidade de viajar; ir juntar-me às esferas da minha memória literária é suficiente. Pois existe distração mais nobre, existe mais distraída companhia, existe mais delicioso transe do que a literatura?” p.131

“A senhora Michel tem a elegância do ouriço: por fora, é crivada de espinhos, uma verdadeira fortaleza, mas tenho a intuição de que dentro é tão simplesmente requintada quanto os ouriços, que são uns bichinhos falsamente indolentes, ferozmente solitários e terrivelmente elegantes.” p.152

“Acho que só há uma coisa para fazer: encontrar a tarefa para a qual nascemos e realizá-la o melhor possível, com todas as nossas forças, sem complicar as coisas e sem acreditar que há um lado divino na nossa natureza animal. Só assim é que teremos a sensação de estar fazendo algo construtivo no momento em que a morte nos pegar. A liberdade, a decisão, a vontade, tudo isso são quimeras. Acreditamos que podemos fazer mel sem partilhar o destino das abelhas; mas nós também não somos mais que pobres abelhas fadadas a cumprir sua tarefa e depois morrer.” p.256

Sobre Muriel Barbery
Muriel Barbery nasceu em 1969 em Casablanca, Marrocos, porém, aos dois meses de idade, mudou-se com seus pais para a França. É professora universitária, formada em filosofia. “A Elegância do Ouriço”, editado em 2006, é o seu segundo romance, premiado com o prémio Georges Brassens em 2006, ano da sua publicação, e o Prix des Libraires, em 2007. Morou no Japão por algum tempo. Atualmente vive na França, passa algum tempo em Kyoto, Japão e em outros lugares da Europa. Não gosta de dar entrevistas. Publicou outros romances: “A morte do gourmet”, em 2000; “La vie des elfes”, em 2015; “Uma rosa só”, em 2022.

Muriel Barbery, au cœur du mystère japonais: https://www.youtube.com/watch?v=9aVLHFpBoVE&t=330s

(Nesse vídeo, Muriel fala em francês. Há possibilidade de solicitar legenda automática em português.)

Comentários de leitores do clube de leitura:
“Sobre o livro do mês, já havia lido a uns anos atrás e vou reler, pois não me recordo bem… Mas fiquei curiosa com a localização do palacete da Rue de Grenelle, visto ser famosa… Então fui no Google (adoro!)”

“O livro deste mês é o curioso A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery. Sua leitura não é fácil nem agradável a princípio. Depois, vamos entrando em contato com a inteligência, o humor ácido e as múltiplas referências culturais das duas personagens principais: a concierge e a garota adolescente. Ambas sábias, críticas, de múltiplas leituras, de humor sutil, solitárias em suas marcantes personalidades.”

“De repente, a leitura nos envolve, com memórias e curiosidades sobre filosofia, literatura russa, cultura japonesa, obra cinematográfica de Ozu, Educação, Leitura e Escrita, Arte e Beleza, culinária francesa, gatos e cães, numa mistura deliciosa, bem-humorada e sofisticada. E ainda não cheguei à metade do livro. Estou lendo como o chá da Sra Michel com a portuguesa Manuela, desembrulhando prazerosamente petit-fours e financiers.”

“Gosto muito dos nossos encontros e de todos os companheiros de leitura … “

“Tô marcando o livro quase todo. Ainda não acabei, mas estou gostando demais!”

“Boa noite a todos! O encontro foi muito enriquecedor!”

“Agradeço muito. Realmente é fantástico o encontro.”

“Ótimo encontro!! Vou terminar de ler o livro.”

“Quero registrar que a escolha deste livro foi MAGISTRAL. Mais uma vez, parabéns pela escolha.

“O ano vai se findando e começo minha autorreflexão …como está sendo positivo o meu ingresso neste grupo! Gratidão a todos!”

“Esse livro nos traz muitos links com a cultura francesa, a gastronomia, a cultura japonesa dos haicais, mangás e exotismo da culinária, a literatura russa, a filosofia, o cinema, a pintura, a música, a psicologia através da narrativa de duas personagens com identificações e diferenças, seus dramas pessoais. Mas é através do olhar sábio de uma personagem misteriosa que se faz a luz na narrativa, com sua atenção e generosidade, com sua vivacidade e perspicácia. Faz florescer a camélia em meio aos musgos.”

“Obrigado pela indicação dos livros e condução dos encontros! Obrigado ao grupo, pela generosidade das ideias e comentários!”


Próximos livros e datas previstas para cada discussão:

  • 17- Pequena coreografia do adeus
    Aline Bei (brasileira, finalista Prêmio Jabuti 2022-romance literário) – 29/ dezembro/ 2022.
  • 18- A bailarina de Auschwitz
    Edith Eva Eger (eslovaca-húngara) – 26 / janeiro/ 2023.

Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês.

O tema do clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.” Terezinha Pereira – Coordenadora. 


Capa do livro: A elegância do ouriço


Participante do Clube de leitura: Angela A G Resende


Sala de videoconferência 


AEAMG