CLUBE DE LEITURA – LER PARA TECER 14º ENCONTRO

Prezado(a)s Associado(a)s,

No dia 29 de setembro de 2022, foi realizado, por videoconferência, o décimo-quarto encontro do Clube de Leitura LER PARA TECER AEA-MG. O livro discutido pelos 15 leitores presentes foi “Cachorro Velho”, da autora cubana, Teresa Cárdenas.   

Sobre “Cachorro Velho

Por toda a vida, Cachorro Velho foi escravo no engenho de açúcar do patrão. Seu corpo está velho e cansado, sua mente se perde frequentemente em recordações. Às vezes ele até imagina a própria morte, ou pelo menos o que significa estar longe, muito longe. Então, a velha escrava Beira lhe propõe ajudar Aísa, uma menina de dez anos, a fugir.

Escrito por Teresa Cárdenas, uma descendente de escravos, Cachorro Velho é um retrato duro e comovente da desumanidade da escravidão. “O velho não temia o Inferno: tinha vivido nele desde sempre.”

A escravidão foi abolida em Cuba em 1886, mas, como em tantos outros lugares, sua nódoa se manifesta no preconceito racial e na discriminação. É um livro que abala profundamente os seus leitores.

Trechos:

(copiados da edição: Teresa Cárdenas(1970). Cachorro Velho. (literatura cubana).  Rio de Janeiro:Pallas, 2020.)

“Cachorro Velho não sabia o que aconteceria quando morresse. Na realidade, isso não lhe importava muito. Às vezes, pensava no que o padre Andrés dizia sobre o Inferno, o fogo eterno e tudo o mais, e se sentia inquieto, cheio de dúvidas e perguntas. Não por achar que sua alma arderia se ele não obedecesse ao patrão, conforme lhe asseguravam, mas porque conhecia de perto o fogo e sabia do que ele era capaz.

O velho não temia o Inferno: tinha vivido nele desde sempre.” p.15

“Um senhor e um negro jamais poderiam ser iguais. Cachorro Velho sabia disso. Os negros nunca dariam chicotadas em uma criança que tivesse apenas apanhado um pedaço de pão. Ele nunca tinha visto Cumbá matar outro homem de pancada, nem Beira cortar a orelha de alguém, nem Malongo estuprar uma mocinha…

Todas aquelas atrocidades tinham vindo sempre dos brancos do engenho ou do feitor.”p.23

“Os escravos sabiam que o patrão era o dono de suas vidas, seu senhor, aquele que decidia se eles mereciam viver ou não, se estavam prontos para constituir família, se podiam ficar com os próprios filhos ou se estes seriam vendidos como cestas de frutas.

O patrão deliberava sobre tudo o que se relacionasse às suas vidas e mortes, com mais poder do que Deus e do que todos os santos dos quais o vigário falava aos domingos.

Um escravo era apenas um pedaço de carne malcheirosa e mais nada. Um negro era uma besta de carga, um bicho, um bruto, um ladrão, uma alimária, um saco de carvão… Apenas uma peça.”p.22-23

“E quando não media nem três palmos de altura alimentava as galinhas; guiava as mulas da carroça de bagaço; limpava o milho; recolhia a roupa suja da casa-grande; enrolava as tiras de couro para o chicote novo do feitor… E ao nascer… tivera que trabalhar?

Cachorro Velho achava que sim, que já trabalhava desde o ventre de sua mãe.

Já era escravo desde então.”p.32

Sobre Teresa Cárdenas:

Teresa Cárdenas é escritora, atriz, contadora de histórias e assistente social. Nasceu em Matanzas, em 1970. Teresa mora em Havana e tem três filhos. Recebeu vários prêmios que a creditam como una das vozes mais relevantes da literatura para crianças e jovens em Cuba, entre os quais se destacam:

-Cartas para a minha mãe-Prêmio David, 1997; Prêmio da Asociación Hermanos Saíz, 1997; Prêmio Nacional da Crítica Literaria, 2000. Publicado em Cuba, Canadá, Estados Unidos, Suécia e no Brasil pela Pallas Editora.

-Cachorro velho- Prêmio Casa de las Américas, 2005; Prêmio de la Crítica Literaria, 2006; Prêmio La Rosa Blanca. Publicado em Cuba, Canadá, Estados Unidos, Suécia, Coreia do Sul e no Brasil pela Pallas Editora.

Seus livros foram adotados em programas de leitura em escolas brasileiras públicas e privadas. Seus contos aparecem em diferentes antologias em Cuba e em outros países. Sua obra foi estudada em diversas ocasiões para desenvolvimento de ensaios literários e teses universitárias em Cuba, Estados Unidos, Colômbia, Venezuela e Brasil.

 Uma entrevista com Teresa Cárdenas

Teresa Cárdenas: escravidão, revolução e Cuba hoje – Conexão RS

https://www.youtube.com/watch?v=mO42ffcX6no

Comentários de leitores do clube de leitura:

 “Muito enriquecedor nosso encontro!”

“Boa noite pessoal! Amei participar deste encontro. Foi sensacional. Obrigada. Um abraço carinhoso.”

“Muito obrigada! Encontro que nos trouxe muitas emoções. Triste, mas intenso!”

“Ótimo encontro. Confesso que fiquei um pouco desanimada com a tristeza que senti ao ler o livro. Mas, no nosso encontro, consegui entender a beleza da mensagem da autora. Foi ótimo!”

“Muito obrigada pela partilha. Encontro muito enriquecedor.”

“Sempre nos proporcionando crescimento…  o tempo passa e agente nem percebe. Muito rico,  envolvente.”

“Obrigado pela coordenação e preciosas sugestões de leitura! E a todo o grupo, pelas preciosas contribuições para enriquecimento da leitura! Saímos sempre tocados pela narrativa e narrativas pessoais, sensibilizados pelo destino das personagens, conhecedores de um contexto histórico e mais conscientes das nossas responsabilidades como seres humanos!”

“Valeu demais este nosso Encontro. E o livro é documentário real e, ao mesmo tempo, poético!!!

“Então queria registrar uma das partes que mais me tocou nesse livro. Nas páginas 130 a 132 a autora fala de um amor “amor”. A atualidade, a juventude nos faz crer que amor é algo arrebatador, que arrasa, que desmonta a base e as pernas, que leva nosso interior embora. Mas na verdade, o amor, aquele sublime que move céus e terra, reside no dia a dia, na rotina, no pouco a pouco. É como uma planta que primeiro aprofunda suas raízes, se firma. Cresce lentamente, porém forte. E, às vezes, seja na confusão da vida repleta de afazeres e problemas, seja no costume de vermos sempre a nós mesmos, deixamos de perceber esse sentimento maravilhoso.”

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Próximos livros e datas previstas para cada discussão:

 

  • 15- Minha vida de menina. 27 /outubro / 2022. Autora: Helena Morley (Brasil)
  • 16- A elegância do ouriço. 24/ novembro/ 2022. Autora: Muriel Barbery (autora franco-marroquina)

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Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês.

O tema do  clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances  escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”

Terezinha Pereira


Capa do livro Cachorro Velho


Foto da autora Teresa Cárdenas



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