44º Encontro do Clube de Leitura Ler para Tecer AEAMG

No dia 27 de março de 2025, foi realizado, por videoconferência, o quadragésimo-quarto encontro do CLUBE DE LEITURA LER PARA TECER AEA-MG. 

A FALÊNCIA, romance da escritora brasileira,  Júlia Lopes de Almeida, foi o livro lido pelos participantes do Clube de Leitura para ser discutido nesse encontro. 

Sobre: A FALÊNCIA

 “A FALÊNCIA é o livro mais famoso da escritora Júlia Lopes de Almeida. Conta a história de Camila, uma mulher burguesa, casada com Francisco Teodoro (um rico empresário do café) e amante do doutor Gervásio. No entanto, com a falência e o posterior suicídio do marido, ela precisa recomeçar.

A narrativa está situada na última década do século XIX, no Rio de Janeiro, e mostra os primeiros anos após a Proclamação da República. Assim, com uma linguagem objetiva e antirromântica, apresenta uma visão realista sobre a sociedade da época e, também, traços de naturalismo, romantismo e pré-modernismo.  

A autora: JÚLIA LOPES DE ALMEIDA

“Júlia Lopes de Almeida, escritora brasileira, nasceu em 24 de setembro de 1862, no Rio de Janeiro. Ainda criança, mudou-se com a família para Campinas. Em 1886, viajou para Portugal. Nesse país, casou-se com o escritor português Filinto de Almeida (1857-1945) e publicou seu primeiro livro — Traços e iluminuras. No Brasil, escreveu para vários periódicos, atividade incomum para mulheres da época, e foi a única mulher entre os idealizadores da Academia Brasileira de Letras, apesar de ter sido impedida de ocupar uma cadeira nessa instituição.

Considerada uma escritora com ideias avançadas para a sua época, já que defendia a abolição da escravatura, a república, o divórcio, a educação formal de mulheres e os direitos civis, Júlia Lopes de Almeida é associada ao realismo e ao naturalismo. Portanto, a sua obra mais conhecida — A falência (1901) — é marcada pela objetividade, crítica à sociedade brasileira, temática do adultério e determinismo. Assim, a contista, romancista, cronista e dramaturga teve relativo sucesso em sua época, antes de falecer em 30 de maio de 1934, no Rio de Janeiro.”

Trechos do romance (copiados da edição: Almeida, Júlia Lopes de, 1862-1934. A falência.  Jandira/SP: Via Principis, 2019)

“[…]Na escada encontrou o mulato, o Isidoro, com uma vassoura na mão.

÷Cuidado!… não me tirem as teias de aranha do armazém…

÷Não, senhor! Eu bem sei que aquilo dá felicidade.”p.15

“Da cadeira de braços, Francisco Theodoro atirava a sua última bomba contra a República, lamentando este grande país, tão digno de melhor sorte…

Rino levantou-se; ele tinha outras opiniões e uma fé sincera nos destinos da pátria. A alma nova da América só podia agasalhar sentimentos de liberdade. A monarquia era a poeira da tradição acumulada com o correr dos séculos, em velhas terras da Europa. Lá teria a sua razão de ser, talvez; mas não aqui! Concluiu ele.

Farfalharam as saias das senhoras, que se punham de pé, já cansadas da discussão, abominando a política…”p.68

“Veio o peru  à brasileira provocar elogios ao cozinheiro do Netuno.

Magnífico!

Francisco Theodoro afirmou logo que aquele prato parecia feito, de saboroso que estava, por uma mulher. – A brasileira tem um jeitinho especial para temperar panelas – dizia ele. – É verdade, verdade, assim como ela não devia ser chamada para os cargos exercidos por homens, também os homens não lhes deviam usurpar os seus. A cozinha devia ser trancada ao sexo feio.

Ele dizia isso como pilhéria, por alegria.

Catarina, fazendo estalar uma côdea de pão entre os dedos magros, perguntou sorrindo, com ar de curiosidade maldosa:

  • O senhor é contra a emancipação da mulher, está claro.
  • Minha senhora, eu sou da opinião de que a mulher nasceu para mãe de família. Crie os seus filhos, seja fiel ao seu marido, dirija bem a sua casa e terá cumprido a sua missão. Este foi sempre o meu juízo e não me dei mal com ele; não quis casar com mulher sabichona. É nas medíocres que se encontram as esposas.”p.71

“Aquelas cadeiras e aquele sofá de braços estendidos tinham o ar das coisas a que a intimidade dos seres não deu ainda uma alma.”p.118

“E tudo dela repugnava a Ruth: a estupidez, a humildade, a cor, a forma, o cheiro; mas percebera que também ali havia uma alma e sofrimento, e então, com lágrimas nos olhos, perguntava a Deus, ao grande Pai misericordioso, porque a criara, a ela, tão branca e tão bonita, e fizera com o mesmo sopro aquela carne de trevas, aquele corpo feio da Sancha imunda? Que reparasse aquela injustiça tremenda e alegrasse em felicidade perfeita o coração da negra.

  • Sim, o coração dela deve ser da mesma cor que o meu – cismava Ruth, confusa, com os olhos no altar.”p.137-138

Comentários de leitores do Clube de Leitura:

“Obrigada a todos, foi muito rica e divertida nosso encontro. Apenas completando minha fala sobre o Francisco Theodoro e sua “ingenuidade” ou cegueira em relação à infidelidade: a obra foca apenas na apresentação de um homem não preocupado com a traição (amorosa), quando até repassa para o Gervásio a tarefa final de “apoio” à família.”

“Obrigado, Terezinha! Obrigado, grupo! Mais um livro, gerando tantas ideias e leituras, subjetividades, e a gente participando, compartilhando opiniões, histórias pessoais e afetos. Abraço agradecido e boa noite!”

“Gostei do livro. A única coisa ruim é ser tratada como um ser inferior.  Sinto na pele porque entro no personagem. “

“Um encontro muito rico.  Com diversas visões e interpretações.”

Para conhecer a autora:

https://www.youtube.com/watch?v=jJpyxspvU_8

https://www.youtube.com/watch?v=9EaFTwDbycw

Próximo livro e data prevista para a discussão:

          45º. – Bem-vindos A Livraria Hyunam-dong, da autora Hwang Bo-reum (sul-coreana)

          Data: 24 de abril de 2025

Os encontros são realizados nas últimas quintas-feiras de cada mês. 

O tema do  clube de leitura “LER PARA TECER AEA-MG” é a leitura de livros de romances  escritos por autoras brasileiras e também estrangeiras.

“Um clube de leitura é um grupo de pessoas que leem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras lidas.”

 

AEAMG